Menino de Engenho – 50 anos

Menino de Engenho, de Walter Lima Jr. está completando 50 anos. No Encontro do CPCB durante o Festival do Rio neste ano, haverá uma sessão especial com o filme no dia 11 de outubro, às 18h, no Instituto Moreira Salles.

Como tantos outros clássicos do cinema brasileiro, Menino de Engenho estava ameaçado de perda. Em 2001, ao ser informado do estado crítico da cópia do filme por Carlos Alberto Mattos, biógrafo do diretor, o CPCB conseguiu restaurá-lo em projeto incentivado pelo Ministério da Cultura, patrocinado pela Petrobras BR  e apoiado pela Labocine e Rob Filmes.  O trabalho de restauro foi realizado na Labocine por equipe coordenada por Francisco Sérgio Moreira.

Numa celebração da data, a edição 2015 do Festival, em articulação com o CPCB, incluiu a sessão com o filme em sua grade, que será acompanhada de uma homenagem da Fipresci ao diretor nascido em Niterói e que tinha 26 anos quando realizou Menino de Engenho.

Obra de grande valor estético, o filme é também um importante documento histórico, na medida em que retrata as transformações culturais, sociais e econômicas, expressas na derradeira resistência dos senhores de engenho à Revolução Industrial que não tinha mais volta e viria inexoravelmente dominar os canaviais do Nordeste.

Se na filmografia brasileira Menino de Engenho é hoje um clássico, na história de nossa formação cultural o seu valor é inestimável.

A seguir, um texto de Carlos Alberto Mattos incluído no catálogo do Festival do Rio 2015:

Meio século de Brasil

Há 50 anos, quando surgiu Menino de Engenho, ninguém duvidou que estava despontando um cineasta com personalidade e dicção próprias, brasileiro até a medula. Uma brasilidade que se reflete na luz, nas paisagens, nas histórias e nos tipos humanos. Ainda assim, sua obra não se subjuga ao típico nem aos cânones de uma suposta identidade nacional. São filmes que se querem, antes de tudo, cinema.

Walter Lima Jr. foi cinéfilo-mirim, cineclubista, jornalista do setor policial e crítico de cinema antes de pisar pela primeira vez num set. Ativo assistente de Glauber Rocha em Deus e o Diabo na Terra do Sol, ele começava sua carreira sob a égide  do Cinema Novo. Mas qual não foi a surpresa de quantos viram a estreia de Menino de Engenho. As ousadias cinemanovistas eram balanceadas por um recorte clássico, influenciado por Humberto Mauro, o western americano e os dramas familiares de John Ford, com o quadro social condicionado aos personagens e uma visão nostálgica do velho mundo dos banguês. “É um lírico”, tentaram colar o rótulo em sua testa. Walter fingiu que aceitou, mas partiu logo para desmenti-lo com o tropicalista Brasil Ano 2000.

Assim seguiu sua carreira, desafiando expectativas de ocasião e tendências hegemônicas do cinema brasileiro. Do mal-estar político-existencial da ditadura (Na Boca da Noite) à embriaguez libertadora de A Lira do Delírio, do épico popular de Chico Rei à pulsão naturalista de A Ostra e o Vento, do intimismo romanesco de Inocência e O Monge e a Filha do Carrasco ao puramente afetuoso Os Desafinados, passando pelas ousadas combinações de documentário e ficção, o cinema de Walter Lima Jr. não cabe em rótulos nem se aprisiona em camisas-de-força autorais.

O país de Walter é um Brasil oblíquo – inocente e delirante ao mesmo tempo – que surge das entrelinhas de seus filmes, mesmo quando eles parecem se passar apenas no espaço mágico do cinema.

Um comentário

  1. Jorge Costa disse:

    Uma sessão histórica na qual tivemos o privilégio de rever um clássico do cinema e inúmeras personalidades da cultura brasileira.

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