Cinema Gaúcho I – 1900 – 1913

por Antônio Jesus Pfeil

Francisco Xavier e Francisco Santos, sócios da Guarany Filmes

Relembrar o início do cinema no Rio Grande do Sul, neste momento em que já tenho prontos os originais de dois livros à espera de serem publicados, Cinema Gaúcho dos Anos 10 e Cinema Gaúcho dos Anos 20, não deixa de ser prazeroso. O desabrochar do século 20 teve realmente seu início após a Primeira Guerra Mundial, precisamente nos anos 20, no entanto podemos assegurar que na primeira década do século alinhavou-se a ideia de evolução e que um mundo novo teria princípio. Coisas vinda da Europa. “O Rio de Janeiro passava por uma grande transformação urbana. As demolições de velhos pardieiros na parte central da Capital tiveram início em 1903, não sem os protestos violentos dos políticos oposicionistas e dos comerciantes conservadores que culminaram nas arruaças populares e na quebra de lampiões em novembro de 1904”, ano em que é inaugurada parte da Avenida Central.

“O Rio civiliza-se! – era o slogan que se ouvia…Uma ânsia de progresso dominava a cidade: prédios novos, iluminação elétrica, diversões noturnas, higiene nas  ruas, e nas amplas avenidas começam a surgir os primeiros automóveis.” Porto Alegre não ficaria indiferente às influências da Capital e era um mercado aberto. Uma cidade ainda colonial, com casas de telhados formados pelas telhas chamadas de “portuguesas” finalizando ainda em beirais, qual as platibandas já tentavam abafar. Telhados de claraboias, janelas de guilhotina e porta em arco. Vielas irregulares, mal cheirosas, imundas, por onde passava o “pipeiro” da fonte do Freitas ou do bairro do Menino Deus distribuindo de porta em porta a “água potável” à população. Em alguns bairros, como na Floresta, ainda se viam lampiões a gás e mesmo no Centro da cidade alguns diziam presentes. Algumas linhas de bonde ainda eram servidas por carros de tração animal, embora os bondes elétricos tivessem surgido em 1908.”

Debruçar-se sobre a história do cinema gaúcho, de maneira ampla, é tentar reunir elementos controvertidos, por se tratar de um assunto em que residem o sonho, a criatividade, a esperança e a frustação, que paralelos às questões econômicas se revestem de incertezas. Ingredientes que acabam por interferir na realidade. Assim foi e ainda é o cinema. Imaginem tentar escrever e recuperar esse passado, mas é o que estamos tentando fazer, nas páginas que seguem. Por outro lado nada mais gratificante, em poder deixar reunidos os registros dessa primeira década do século 20, em que sob todos os aspectos o cinema se organizava, no Estado em particular, impondo um novo sentimento, um novo olhar e instrumento de análise da própria condição humana. Durante anos fomos em busca desse roteiro mágico, procurando enquadrar esses personagens, por vezes aventureiros, loucos e idealistas. Corta. Não fossem os velhos jornais e os arquivos, teríamos um vazio histórico, e nas surradas páginas das revistas e das colunas dos diários encontramos o testemunho, ao menos em parte, dos fatos que montaram esse argumento, vivido e projetado nas telas dos primeiros cinemas.

As opções sociais na capital gaúcha, além dos saraus e piqueniques, se mantinham nas poucas casas teatrais: Polytheama Portoalegrense, Sociedade Bailante e o Teatro São Pedro, este mantendo a preferência do público elitista. O cinema já havia deixado suas impressões pela rua dos Andradas, no centro de Porto Alegre, e foram de significativa importância histórica, visto que os promotores da façanha, Francisco de Paola e George Renouleau, eram oriundos do Rio de Janeiro e São Paulo, onde realizaram as primeiras exibições de “vistas animadas” no Brasil. De Paola esteve em Porto Alegre em dezembro de 1892, secretariando Frederico Figner, que andava demonstrando o seu “Phonographo” de Edison. Quem, no entanto, realizou a primeira exibição cinematográfica no Rio Grande do Sul foi De Paola, em 4 de novembro de 1896. George Renauleau, seguindo os passos de seu concorrente, fez a sua primeira apresentação no dia 7 de novembro, na rua dos Andradas, nº 230, sendo o seu aparelho confundido com o “do Genial Edison”, quando na realidade era um projetor dos Irmãos Lumière, fato posteriormente esclarecido. Por aqui ficou até o dia 27 de novembro. Francisco De Paola se manteve até 5 de dezembro, viajando para Buenos Aires.

A partir daí, apenas três cinematógrafos se apresentaram como atrações em circo e companhia de variedades. A imprensa por sua vez registrava: o Circo Serino, pertencente à Empreza Cassali & Bovaria, o Kinetophone de Edison, um projetor acoplado ao fonógrafo, mantinha o sucesso dos espetáculos, na noite de 4 de abril de 1897, e semanas seguintes. No mesmo ano, após a enchente de junho, o “conhecido ilusionista e prestidigitador Faure Nicolay”, no Teatro São Pedro – 24.07-, juntamente com a Cia. De Zarzuelas, apresenta o seu cinematógrafo, “considerado inferior aos que já vimos nesta Capital”, ao lado de um “Diaphorana Universal (…) medíocre, sem grandes efeitos”. Vindo de Florianópolis, passando por Rio Grande, Bagé e Santa Maria, a Companhia de Variedades do Teatro Lucinda, dirigida por Germano Alves, estreia no Teatro São Pedro, dia 9 de abril de 1898, arrancando aplausos do público com o seu cinematógrafo de Lumière. No dia 26.04 foram para São Leopoldo.

Na virada do século a modernização vai se impondo, mudando os conceitos, e a presença do cinema causa preocupações quanto a sua influência perniciosa nas questões morais. As entidades religiosas contestam e a imprensa assiduamente mantém a vigilância na publicação de artigos. O impacto do registro cinematográfico se impõe de maneira tão acentuada que de imediato fez transparecer a sua marca no jornal do Comércio de 13.4.1900, onde surgiu a coluna “O Cinematographo”, assinada com o pseudônimo de Edison, abordando pequenos dramas, antevendo os enredos com que o cinema iria rotineiramente inundar a década de 20 e até os anos 50.

O cinematógrafo começa a tomar corpo e circular por todo o país. Homens como Victorio Di Maio, os irmãos Filippi e Guido Penelli percorriam o Brasil inteiro projetando suas “vistas” e até mesmo filmando. Em Porto Alegre, um aparelho com o nome de “Panorama Internacional”, que todos os dias exibia imagens estáticas, procurava substituir pretensamente o cinematógrafo. Era bem frequentado, ficou uns 30 dias, encerrando no dia 25 de julho, partindo no dia seguinte, no navio Itaipava, para Pelotas. O proprietário do aparelho era José Barrucci. Alguns teatros estavam fechando, em virtude de uma certa precariedade com relação à frequência. O cinema retornou em 1901, no dia 15 de janeiro, na rua dos Andradas nº 397, onde foi a tinturaria Phoenix, das 7 horas da tarde às 10 da noite, com o nome de “Biographo Americano”, de propriedade dos irmãos Domingos e José Filippi, que pela primeira vez pisavam no Rio Grande do Sul. Um outro cinematógrafo aparece e para surpresa foi José Barrucci o ex-proprietário do Panorama Universal, que projetava imagens sem movimentos, mas que trouxe como novidade um cinematógrafo Lumière, de Paris, instalando-se numa sala de bilhares do Café Guarany, onde permaneceu de 24 de janeiro a 27 de fevereiro, transferindo-se para Bagé, onde obteve grande sucesso, a partir de 17 de março.

A Exposição de 1901 no Parque da Redenção era uma antiga aspiração do governo do estado, com intenções de mostrar o desenvolvimento industrial e econômico, com grande alarido e festividades, e foi inaugurada em 24 de fevereiro. No Teatro São Pedro, um dia antes, foi inaugurado um cinematógrafo, de Henrique Sastre, engenheiro arquiteto que já havia estado em Porto Alegre, entre 1889 e 1900, construindo alguns prédios. Foi uma sessão especial para a imprensa, às 8h30 da noite, permanecendo até o dia 8 de março, com extraordinário sucesso, seguindo para o cenário da Exposição, onde se apresentou no dia seguinte. Entre as “vistas” exibidas, algumas sobre o Estado de Santa Catarina.

A interferência do cinema nas programações do teatro em questão era apenas tolerada, em virtude da frequência diversificada do público. O cinema era um divertimento popular e estava assumindo o seu lugar nas classes menos privilegiadas. Por outro lado a burguesia também se locupletava com as imagens, daí as exibições comumentes particulares dedicadas à imprensa e ao “Presidente do Estado”, com seus convidados. Com boa acolhida, mais cinematógrafos chegavam: no dia 8 de abril, vindo de Montevidéu, o Cinematógrafo Gaumont, que estreou dia 19 de abril, no Teatro São Pedro, com vários filmes, além de uma “Exposição de Cinematographo” na feira. A partir de 7 de julho, outro cinematógrafo se apresentou no Teatro São Pedro com “vistas” variadas, dia 9 com novas “vistas”, 13 e 14 últimas exibições. No dia 15 de setembro, no Polytheama PortoAlegrense a exibição do Cinematógrafo Cometa, com variado programa. No mesmo local, dia 29 de setembro, estreou o Cinematógrafo Universal, de propriedade de José Barrucci e do Sr. H. Kaurt, onde ficou até 6 de outubro. Ainda no mesmo local, no dia 1º de outubro, no Cinematographo Universal, que José Barrucci posteriormente vendeu a H. Kaurt, foi lançado o documentário Passagem da Bíblia pela Ponte do Gravathay. No dia 6 de novembro, no Teatro do Parque, inaugurado em outubro, estreou o Cinematógrafo do Sr. Henrique Sastre, ainda em franca atividade, com imagens fixas e animadas, programação considerada “excellente e bem escolhida”. Sartre ficou exibindo o seu “magnífico cinematographo” até 15 de novembro.

Os anos seguintes, 1902 a 1906, foram paupérrimos. Assinala-se a persistente presença de José Barrucci com seu  Moderno Cinematographo, em 1º de abril de 1902, no Teatro São Pedro, e ainda nos dias 4, 5, 6, 7 e 12 (às 18h e 21h), com casa sempre lotada. Segue nos dias 18, 19, 21, 22, 25, 26 de abril e 3 de Maio. Em 1º de abril de 1903, novamente José Barrucci, que ficou até o mês seguimte no Teatro São Pedro.

O Rio de Janeiro por esta época enfrentava surtos de peste bubônica, febre amarela, varíola e consequentes problemas que passaram a interferir diretamente no meio artístico, se ressentindo no Rio Grande do Sul de companhias teatrais de São Paulo e Rio. Nos dias 29 e 30 de novembro de 1903, juntou-se a um cinematógrafo a Companhia Dramática Particular Porto Alegrense, apresentando o “drama, em três actos” original do correligionário Zeferino Brasil, Peccados de Velho, entre outras apresentações de violão e canto lírico. O ano estava chegando ao fim e em 24.12, no Teatro São Pedro, adeu-se a estreia do Cinematógrafo de Antonio Mecking, que ficou nos dias 25, 26 e 27. No último dia a presença de público foi fraca.

Apesar de tudo, o ano de 1904 foi marcante com a chegada dos Irmãos Felippi (José e Domingos), a quem devemos as primeiras filmagens realizadas nas cidades de Rio Grande, Pelotas, Bagé, Jaguarão e Porto Alegre: A Chegada do Senador Pinheiro Machado, em Rio Grande, 23.2, Vistas da União Gaúcha, no Centro de Tradições, em Pelotas. Em Porto Alegre o Cinematógrafo se apresentou no Teatro São Pedro no dia 31.07, exibindo as Vistas do Grêmio Tamandaré pela Bacia do Guaíba, além dos filmes das outras cidades, ficando até 12.10. Durante os dias de exibição, os Irmãos Felippi ainda fizeram várias filmagens. Também foram exibidas vistas de outros Estados: Mato Grosso, Amazonas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. A última exibição foi no Polytheama Portoalegrense.

Em 1905, a grande novidade foi o cinema “sonoro” de E. Hervert, na combinação do Cinematographo com o Phonographo, no Teatro São Pedro, em 31.08, sendo aplaudido pelo público até o dia 10.09, transferindo-se dia 12 para o Polytheama e despedindo-se no dia 27, destacando no final de um anúncio publicado a frase: “Adeus Porto Alegre”. Em 1906, apenas dois aparelhos: o de Jorge Virgt, que teve a sua estreia no dia 15 de fevereiro e ficou apenas três dias. Um outro, de Alfredo Moura, que se apresentou no dia 3 de abril e permaneceu até o dia 16, não trouxe maiores novidades. Na cidade de Bagé a “empreza Candeburg” exibia filmes no Teatro 28 de Setembro. Posteriormente chegou na cidade o Cinematógrafo Falante Star Cy, que exibia um cantor em combinação com o disco, cuja sintonia imperfeita constituía mais uma tentativa do cinema sonoro. Além disso voltou novamente com outras exibições imitando vários ruídos e tentando sincronizar com as imagens do filme. A trilha sonora, com um pequeno grupo musical ou um pianista, que ficavam atrás da tela, procuravam alegrar o público.

A influência acentuada do cinematógrafo, em 1907, tem suas raízes no Rio de Janeiro, com a inauguração do novo sistema de eletrificação. Parte desta incidência de aparelhos cinematográficos pelo País, só em Porto Alegre oito obtiveram registros na imprensa:  “Os Cinematographos estão em pleno esplendor. Em toda parte dominam soberanamente monopolizando as atenções, aqui, como no Rio, em Paris ou Nova York” (Diário da Tarde, 11.11.07). Desde o início de abril, no Polytheama, no frequentado Teatro do Caminho Novo, a empresa Herique Dürins & Cia passou a exibir imagens cinematográficas, que agradavam aos frequentadores. Seguiu nos dias 7, 13, 14, 20, 21, 27 e 28.

Um mês depois, em 28 de maio, no Polytheama, a exibição do Cinematógrafo da empresa Baterlô & Cia. Houve um acidente no projetor e a sessão foi cancelada. A estreia aconteceu no dia 31, seguindo nos dias 2, 4, 6, 7, 8 e 9 de junho. Os filmes exibidos foram: O Bocejo, A Voz da Consciência , Um Homem Mal Educado, Fructo Proibido e Drama de um Trem. Seguiu depois para Santa Maria, dia 11. Quem tinha chegado em Porto Alegre no dia 2 foi Domingos Filippi, proprietário do Bioscopio Lyrico, que fez a sua estreia no Polytheama, no dia 10.06. O gramofone utilizado para sincronizar o som com as imagens foi dos melhores, provocando aplausos da plateia. No Teatro São Pedro, dia 19, a Companhia Dramática de Eduardo Victorino utilizou um Poliorama do século XIX para atrair o público, projetando uma coleção de quadros interessantes, coloridos. Em 7 de julho, no Polytheama, o Bioscópio dos Irmãos Filippi promovia duas variadas exibições, sendo uma para crianças de 10 anos, que não pagavam ingresso se fossem acompanhadas à matinê. A programação continuou nos dias 8 a 14 e 18 a 20. Quem assumiu o cargo de secretário da empresa dos Irmãos Filippi foi Lydio Alves Pereira, e em 6 de agosto o Bioscópio se apresentava no Teatro São Pedro, onde ficou até o dia 18, seguindo para Pelotas no dia seguinte, cedendo espaço para “Betran & Cia”., que passou a exibir o seu The Anglo-American Biographo.

Em setembro, dia 8, a empresa Guido & Cia já anunciava que brevemente exibiria o seu “Bioscopo” no salão da Bailante, visto que o Polytheama estava interditado e o São Pedro ocupado até novembro. Devido à alfândega da cidade de Rio Grande não ter dado andamento ao processo de despacho do aparelho Bioscópio, estreou no dia 2 de outubro, ficando até o dia 19, indo para Rio Grande dia 21. Conseguindo algumas vagas, nos dias 26 e 27 de outubro, se apresentou no Teatro São Pedro o Cinematógrafo Grand Prix, da empresa  Baterlô & Cia, que já tinha conseguido exibições para os dias 8, 9 e 10 de novembro.

Num circo de touros que ficava na Rua da República, no dia 24 estreou o Cinematographo Parisiense, considerado o mais moderno. No dia 28, no Teatro São Pedro, foi a vez do Bioscopo Sul Americano, pertecente à empresa Boran & Cia, com filmes considerados inéditos. Para encerrar o ano, chegou do Rio de Janeiro no dia 14 de dezembro um novo cinematógrafo pertecente à empresa Collini & Cia, que se apresentou com o nome de Liliograph Rouget no dia 17 no Teatro São Pedro, idem nos dias 21, 22, 27 e 28.

A frequência aos “cinematographos” é rotineira, saindo do processo da curiosidade para iniciar uma trajetória de implantação e se integrar definitivamente no gosto e nos divertimentos populares.

A 11 de janeiro de 1908, em Bagé, a empresa Germá & Cia, de quem era sócio José Sastre, proprietário da Casa de Postaes Petit Paris, anunciava a estréia  do Cinematographo Brasileiro, com uma sessão dedicada à imprensa, que agradou aos convidados. No dia seguinte, durante a sessão houve jogo de confete e serpentina. Em Porto Alegre, também no dia 11, no Recreio Independência, na Rua Independência, o Cinematographo Pathé fez a sua primeira exibição. Vistas novas. Também no dia 12. No Teatro São Pedro, nos dias 12 a 17 se apresentou o Cinematógrafo da empresa Chatain & Cia., que a seguir se exibiu no Recreio Independência nos dias 18, 23, 25 e 26, que tão apreciado foi quando esteve no salão da Bailante. Na noite de 31 de janeiro, no Teatro São Pedro, o Cinematógrafo da empresa Diaz & Diaz fez uma exibição para a imprensa local, ficando até 9 de fevereiro, com o Biographo Non Plus Ultra.

Desde o início de fevereiro já se encontravam em Porto Alegre João Maciel & Coca, proprietários de um aparelho Gaumont que funcionou em diversas cidades do sul do estado. O Correio do Povo de 6/2 publicou que “por motivo da morte do rei D.Carlos e do Príncipe D.Luiz não haverá, esta semana, exibição do biographo pertencente à empresa Diaz & Diaz”. No dia 15 de fevereiro, no Teatro São Pedro, a primeira exibição do Cinematographo Moderno que Salustiano Maciel (Maciel & Coca) mandou adquirir na Europa, considerado o mais aperfeiçoado no Brasil. Um dia antes houve uma sessão para a imprensa. Os filmes exibidos foram: O Martir da Inquisição, Filho do Guarda-bosque, Amor e Loucura, Cão Ladrão, Bom Filho, Ladrão e Paralytico e Mudança de Bebados. Continuou nos dias: 20 a 23 e 27.

Por ocasião do carnaval de 1908, o fotógrafo Jacinto Ferrari documentou as manifestações populares filmando os desfiles da Sociedade Carnavalesca Esmeralda, com exibição no dia 8 de março no Teatro São Pedro. Antes, no dia 5, o Cinematógrafo Moderno exibiu: O Milagre da Virgem Maria, Evasão Cômica, Fuga Amorosa, Novo Manuscrito e Cães de Polícia. O carnaval rendeu e ainda teve exibições nos dias 18 e 21.

Um novo aparelho iria modificar os rumos do cinema em Porto Alegre e desencadear um interesse maior no campo do investimento, proporcionando o início e a estabilidade da exibição cinematográfica na Capital, como veremos. José Tours, representante de uma fábrica espanhola de material cinematográfico, montou na Rua dos Andradas, 321, o primeiro cinema de Porto Alegre: o Recreio Ideal, que inaugurou no dia 20.5.1908, com uma sessão dedicada à imprensa. O projetor era divulgado como “Auto-Tours”. No Salão da Bailante, o Cinematographo Paraíso do Rio se apresentou no dia 2/5, ficando até dia 13 de junho, quando foi para Santa Cruz. O proprietário era Patrício Marques Pires.

Algumas mudanças estavam para acontecer com os cinemas. O proprietário do Recreio Ideal, José Tours, vendeu o cinema para a Hirtz & Cia e foi para o Rio de Janeiro. A partir daí o Recreio Ideal adquire importância como ponto de encontro da sociedade e surge a figura deflagradora de Eduardo Hirtz. Em meio a alguns poucos cinematógrafos que persistiam, novos cinemas iam sendo inaugurados: Recreio Familiar, 16.06, Rua dos Andradas, 327, que depois se transferiu para a Voluntários da Pátria, 98; Cinematógrapho Rio Branco, 06.10, Rua dos Andradas, 477; Recreio Moderno, 17.10, Rua Demétrio Ribeiro, 276, antigo Café Aliança; Cinema Berlim, 07.11, Rua dos Andradas, 305; Cinema Variedades, 25.11, Rua dos Andradas, 343.

Neste mosaico cinematográfico de casas exibidoras, a atmosfera seduzida pelas imagens da tela propiciava as condições necessárias para um outro ramo de cinema: a produção de filmes. O Teatro São Pedro ainda recebia “Cinematographos”, e no dia 9 de agosto o da empresa Coldberg & Cia., em que se destacou o filme Degolação de São João Batista. Quem abrilhantou a trilha sonora foi a banda de música Carlos Gomes. O pioneiro também nas sessões de “matinées” foi Eduardo Hirtz, que aos sábados e domingos dava sessões das 2 às 5 da tarde, e à noite das 6 às 11h. No Recreio Familiar, dia 14, sessão com novos filmes com orquestra. No dia 16 de agosto, no Teatro São Pedro, o Cinematographo Pathé fez duas exibições, matinê às 5h e à noite; No Recreio Familiar, “vistas” coloridas e no Recreio Ideal, com matinê às 5h. No dia 12 de setembro, no Teatro São Pedro, o Cinematographo Grand-Prix de Bartelô & Cia, seguindo nos dias 13, 19 e 20.

Em 25.09 Eduardo Hirtz confirma que resolveu adquirir uma câmera de filmar e já tinha contratado um fotógrafo muito conhecido. No Teatro São Pedro, o Cinematógrapho Jerman & C. teve a sua primeira exibição no dia 6 e posteriormente nos dias 10, 14, 29 e 31 de outubro, exibindo no último dia o filme Pássaro Azul, com 350 metros. No dia 26, outros cinematógrafos: no Club Apollo, à Rua dos Andradas, e no Teatro São Pedro o Cinematographo Brazileiro, que se apresentou novamente no dia 7 de novembro.

No último sábado de novembro, 25, a inauguração do Cinema Variedades. O cinema pertencia à firma Lumiere & Cia e tinha como eletricista o Sr. Accacio de Andrade. A novidade era que o operador italiano Nicola Petrelli estava em Pelotas filmando a primeira partida do Esporte Club Pelotas contra o E.C. Rio Grande, produzido por Eduardo Hirtz, que começava a ampliar seus negócios. Era agente para todo o Estado do Rio Grande do Sul da Casa Pathé Fréres de Paris, que vendia aparelhos, filmes e tudo o que era referente ao cinema.

Em vista da data de lançamento, 27 de março de 1909, à parte algumas experiências que possa ter realizado, Hirtz certamente começou a produzir o primeiro filme de enredo do estado em princípios do ano. Podemos considerá-lo o segundo filme com atores produzido no Brasil, quem sabe na América do Sul, pois o primeiro foi Os Estranguladores, por Francisco Marzulo, em 1906, no Rio de Janeiro. Inevitavelmente, Ranchinho do Sertão tinha como temática a paisagem campesina. Também nisso foi pioneiro o gaúcho e como pano de fundo a revolução farroupilha. O argumento foi extraído de poema de Lobo da Costa, Ranchinho de Palha ou Aquele Ranchinho. O elenco era formado por Carlos Cavaco, Alcides Luppi, Ernesto Weyrauch, o ator Machado e Leonor.

1908 estava chegando ao fim e em 26 de dezembro, na cidade de São Leopoldo, na Sociedade Estrela do Sul, estreava o Cinematógrafo Elison, considerado “um verdadeiro desastre devido à escuridão da projeção”. Em 30/12 os cinematógrafos exibiam: Variedades – Extração do Veneno da Cobra, Piemont na Chuva, Pai Desnaturado, Só Duas Fadas e A Calma Esgota-se; Recreio Ideal –  Ladrões no Século XX, Chegada do Marechal Hermes da Fonseca, Um Pescador que foi Pescado, A Cicatriz  e Sogro Intransigente. Rio Branco –  Rio de Tolomei, Caça ao Diabo, Interior do Pavilhão Nacional do Rio de Janeiro, Confissão pelo Telefone, Sonho Juvenil e Adeus.

O Correio do Povo de 1° de Janeiro de 1909 anunciava: “Funcionarão hoje os seguintes cinematógrafos: Rio Branco – Os Contos de Vovô, Para Ter Felicidade Todo Ano, Fada das Flores, Boa Sorte, As Três Culpas do Diabo e Adeus; Recreio Ideal – Uma Carta Urgente, Um Filho de Família, No País dos Lampiões, Grande Incêndio em Paris, e Um Sogro Intransigente; Variedades – Sebastopol e a Esquadra do Mar Negro, Realejo Encantado, A Menina Florista, Sra. Armanda, A Cartomante e A Mania da Esgrima.

Em 26/3, com muito sucesso foi lançado no Recreio Ideal Ranchinho do Sertão, um filme pequeno de 96 metros, que no entanto buscou na literatura regional a valorização das nossas raízes históricas. A repercussão na imprensa foi expressiva, pois foi uma exibição especial. Para o público, no dia seguinte, com o cinema lotado.

Por questões de melhoramento o Recreio Ideal anunciava sua mudança para o prédio onde funcionou o Hotel Siglo, que estava passando por uma reforma, na mesma Rua dos Andradas, nº 311 e 313, com sala de espera, todo conforto e luxo. Excelentes acomodações para os espectadores e ótimas instalações elétricas. A empresa Baterlô &Cia. contratou na Europa uma variada coleção de filmes de arte para a inauguração, que aconteceu no dia 27 de maio, com a casa lotada, que aplaudiu a perfeição do projetor e os filmes exibidos. Por motivos de luto nacional, o Recreio Ideal reabriu no dia 17 de Junho, após uma exibição especial para a imprensa, no dia anterior, em que foi também exibida a procissão de Corpus Christi realizada no dia 11 e bem filmada. Hirtz continua filmando e registra a Cerimônia de Inauguração da Catedral de Santa Maria, em 8/12/1909. A modernidade se organizava e tinha até Clube: De Gramophones Alliance (sic) avisa aos “assignantes de Club 4 que o primeiro sorteio será dia 17 de janeiro de 1910”.

Em 22/01, no Recreio Ideal, dá-se a exibição de Combate Simulado do Tiro Brasileiro em Canoas. Em 26/1, na Exposição Festa da Uva, no bairro Terezópolis, exibe-se Manobras Militares. No Recreio Ideal, a Cerimônia de Inauguração da Catedral de Santa Maria. Em 13 de novembro Hirtz filma as Regatas Realizadas pela Federação do Remo de Porto Alegre.

O ano de 1911 é de efervescência para o cinema local, no que diz respeito às novidades técnicas, à implantação definitiva do cinema como espetáculo e vida social. O mais importante: o clima estava propício aos trabalhos de filmagens: Inauguração da Estátua do Marechal Floriano Peixoto, documentário exibido em 19/01/1911, no Cinema Odeon, que anunciava um aparelho conhecido por “Auxetephone”. No Cinema Variedades, em 2 de abril, o documentário Scenas do Campo do Paraná. Dando seguimento, no Teatro El Dorado o Cinematógrapho falante de H. Dobeeshein fazia as delícias da burguesia, e da mesma forma um outro Cinematógrapho no Teatro São Pedro. Ambos continuam, nos dois locais, nos dias 16, 17 e 20/4.

No dia 29, na Rua dos Andradas, 365, a inauguração do Cinema Parisiense. E ainda as filmagens, por Isller & Furtado, proprietários do cinema Smart-Salão, da Parada da Briosa Brigada Milita. No cinema Odeon, a projeção do documentário Villa Rio Branco, no Paraná, em 27/06. Porto Alegre, além dos teatros, já contava com seis cinemas. Como consequência, a partir de julho, nota-se na imprensa, seguidamente, a publicação de anúncios da programação dos cinemas Odeon, Royal – que ficava no Café Jacinto –, Smart-Salão e Recreio Ideal, que se destacavam diariamente com anúncios de um quarto de página no Correio do Povo. Em 15 de agosto, em razão da concorrência de mercado, houve uma tentativa de incêndio no Recreio Ideal, que não deu certo, pois à noite a sala já estava funcionando.

Contratado pelo Ministério da Agricultura, Guido Penello, operador cinematográfico, filmava, no dia 27 à tarde, no Campo da Redenção e na Av. 13 de Maio, um corso de carruagens. Junto com cenas filmadas anteriormente no Clube Almirante Barroso e na Rua dos Andradas, realizava um documentário de dez minutos. Um assalto realizado em uma casa lotérica, em 6 de setembro, no centro de Porto Alegre, se transformou num roteiro cinematográfico de repercussão, que ficou conhecido como A Tragédia da Rua dos Andradas, produzido por Eduardo Hirtz, que contratou Guido Penello. O filme foi exibido no Cinema Coliseu no dia 15/09 com quatro sessões, das 7h30 às 10h30 da noite. Foi um documentário de “550 metros”, com “14 quadros”, divulgado com tal intensidade que o Cinema Coliseu foi policiado. No dia seguinte, mais três sessões.

O Variedades inaugurou em 20 de setembro o seu novo e luxuoso salão, com uma bela festa no edifício da antiga Bohemia. No mesmo dia 20, Guido Penello passa por Pelotas, onde filma uma festa no União Gaúcha e o Primo Vescovo di Pelotas, Dom Francisco de Campos Barreto. Em Alegrete, em 3 de outubro, Emilio Diaz fez uma exibição, ao ar livre, na Praça 15 de Novembro, de seu Cinematógrafo, com “vistas” animadas. Em Porto Alegre, Emilio Guimarães, numa produção de Arthur Sampaio, filmou as festas de outubro do “Turner-Bund”, o atual “Sogipa”, que foi exibido no Cinema Variedades. Em Pelotas, em 30/11, o Coliseu Pelotense, visto o sucesso do documentário A Festa da União Gaúcha, exibido duas vezes, resolveu incluí-lo no programa da noite.

O ano de 1912 se apresenta otimista, e o cinema teve um destaque expressivo, como veremos: Cinema Odeon 7/1 pelo “Auxetophone”: Questa Aquella, de Rigoletto, Gaumont Journal nº 56, A Honrada Mulher, drama, A Noiva D’o Ele, “filme d’arte”, e Tentolin Repórter, cômico. No Coliseu, 18/1, o ator português Francisco Santos se apresentava com a peça teatral Filhas do Mal. Em Pelotas, Damasceno Ferreira & Cia., que já tinham  comprado o Cinema Recreio Ideal de Porto Alegre, adquiriram o Parisiense, que passaria a se chamar Cinema Ideal. Na Capital, Eduardo Hirtz, em 26 de janeiro, filmava a Chegada do Senador Pinheiro Machado. A primeira gravadora de discos, a Electrica, anunciava a sua mudança para a Rua dos Andradas, 302. O cinema se instala de todas as maneiras, ampliando o terreno de suas necessidades técnicas: através da filial da Empresa Cinematográfica Internacional do Rio de Janeiro, instalada na rua Andrade Neves, 2, dispunha de um bom estoque de filmes, que recebia semanalmente as últimas novidades, alugava e vendia, fazia orçamentos e montagem completa de cabine para cinemas, possuía laboratório para revelar filmes com assuntos locais, confeccionava títulos e propagandas nos filmes e também comprava aparelhos cinematográficos de segunda mão e dava cursos técnicos.

Em 16/2, na Travessa Payssandú, 21, às 8h da noite, foi inaugurado mais um “cinema popular”. Eduardo Hirtz segue filmando e documentou o Jardim Zoológico do Coronel Ganzo, que foi exibido no Recreio Ideal em 8/3. Em Pelotas, a 24/3, foi inaugurado o cinema Recreio Ideal. Companhia Telephonica, documentário realizado em Porto Alegre, foi exibido no Recreio Ideal em 14/04. Mais um cinema é inaugurado, às 6 horas da tarde, na rua João Alfredo, 178, o Cinema Nollet de Cypriano Barcellos & Cia. No dia anterior houve uma sessão especial para a imprensa, com os seguintes filmes: Soberano Jornal nº1”, Madame Rex, As Penas do Infiel e Pés Descompassados. Em Rio Grande, em 7/5, foi inaugurado mais um cinema, o quarto da cidade, com promessas de mais um… Novamente a Procissão de Corpus Christi foi filmada, agora por Issler & Furtado. Emilio Guimarães, “photo-cinematographista”, também continua filmando.

O primeiro filme que ultrapassou as fronteiras do Estado foi A Chegada do Senador Pinheiro Machado, 400 metros, de Eduardo Hirtz, no Rio de Janeiro. A Exposição Agropecuária de Porto Alegre foi documentada e Emilio Guimarães foi encarregado de fazer uma reportagem fotográfica da revista Fon Fon do Rio de Janeiro. Em 10/5, o Cinema Nollet exibe os filmes: Casa Sem Filhos, drama, Uma Grande Caçada de Urso Branco, natural, Malicia de Mulher, cômico, e Procissão de Corpus Christi em Porto Alegre. Na Exposição Agropecuária, dia 15/5, foi exibido o documentário sobre a empresa de Fibras Rio Grandense. No dia 17/5, Issler & Furtado filmaram o trabalho da firma Bromberg & Cia. No local onde era o Cinema Variedades, na Praça Senador Florencia, estava sendo construído um edifício por Antonio Tavora Filho. Os proprietários do Recreio Ideal, Damasceno Ferreira & Cia. começaram a negociar o arrendamento do teatro que estava sendo feito no prédio, e transferir o Recreio Ideal para ali. O negócio aumentava e, nos altos do Mercado Público, Blanchart & Guimarães representavam a Eclair Films no Rio Grande do Sul. Na cidade de Rio Grande o Cinema Rio Branco era inaugurado em 13 de junho. No dia 3/7, às 6 horas da tarde, o popular Smart-Salão deu uma sessão especial à imprensa, sendo exibidos bons filmes. Reabriu para o público no dia seguinte, completamente reformado e com grandes melhoramentos. Issler & Furtado perderam a representação da Cia. Internacional Cinematographica, do Rio de Janeiro, para a Empresa Photo Cinematographica, que, além da distribuição, fazia a manutenção de aparelhos, instalações elétricas e filmagens. Os proprietários do Recreio Ideal foram nomeados agentes gerais, no estado, da Companhia Cinematográfica Brasileira.

O cinema por sua vez estava interferindo no teatro, que perdia público. Para proteger o teatro contra a invasão dos cinemas, que se multiplicavam, os primeiros sintomas surgem na Alemanha, com intenções de solicitar dos poderes públicos maior controle e autorização, além de uma censura cinematográfica, a bem da arte e da decência, com insinuações referentes ao Brasil. Ao lado do Cinema Variedades havia o Café América, e o dono do cinema, Arthur Sampaio, comprou o local por “30$000,00” para tornar mais confortável o cinema. Viajou para o Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos Aires, para verificar a modernidade dos cinemas. O Café América mudou-se para outro local em frente à confeitaria Central. No dia 9/7 o Smart-Salão exibiu para a imprensa, às 6 horas da tarde, o documentário da Exposição Agropecuária, com 1.200 mts., e no dia seguinte para o público.

As reformas do Cinema Variedades, que ficou mais espaçoso, revelou uma certa visão preconceituosa, pois foram feitas duas salas de espera. Uma para a primeira e a outra para a segunda classe. A primeira classe com mais conforto, com um salão bem mobiliado, em que as famílias poderiam se servir de doces, licores, gelados etc… No Recreio Ideal, houve mudanças na programação. Os filmes que eram exibidos à noite não eram repetidos no outro dia, no mesmo horário em que eram exibidos os novos filmes. Para solucionar o problema, o cinema passou a ter sessões de matinê, das 3 às 6 horas da tarde, com os filmes da noite anterior. A novidade da empresa foi a criação do Recreio-Ideal Jornal, semanalmente, que além de documentar fatos importantes, registrava o “mundo chic” porto-alegrense, filmando senhoritas, senhoras e cavalheiros que desfilavam pela Rua da Praia.

Foi nessa efervescência que o nome de Emilio Guimarães surgiu no noticiário da imprensa e com repercussão. No dia 13 de julho, os jornalistas foram convidados a visitar o estúdio do “photocinematographico” instalado no Recreio Ideal, onde foram filmados. Depois os visitantes assistiram ao trabalho de revelação, fixação e lavagem no filme. Esse serviço foi realizado em poucos minutos. No dia seguinte os jornais divulgaram a inauguração do estúdio. Precisamente dois dias após as notícias, Arthur Sampaio, proprietário do Variedades, enviou uma carta ao Correio do Povo, onde entre outras coisas dizia: “Sou informado de que Emilio Guimarães vai exibir, no Recreio Ideal fitas sobre a sociedade Turner Bund, as regatas do Club Almirante Barroso e outras de meu atelier “photocinematographico”, mas é preciso que o público saiba, desde logo, que por essa outra indébita apropriação de fitas, bem como de aparelhos, machinas e outros objetos que subtraiu de meu estabelecimento, terá de responder, além do processo pelo crime de estelionato acima aludido, ao de furto, previsto no art. 330 do Cod. Penal”. A repercussão foi grande na Capital, e Emilio Guimarães, através do Correio do Povo, no dia seguinte, o desafiou sob o título: “Um Duelo?”, com duas testemunhas. Sampaio em resposta confirmou, mas que a arma seria dele. Após várias interferências de amigos, acabou em nada… O certo é que Emilio Guimarães realizou 21 edições do Recreio – Ideal – Jornal, documentários sociais e comercias.

Os cinemas continuavam lotados. Em Bagé, no dia 19/9, Francisco Santos, empresário teatral, anunciava que iria montar, no estado, com o nome de Guarany, um estúdio de filmes e que já tinha encomendado os aparelhos necessários. Na realidade a Guarany Films foi inaugurada em 16/01/1913, na cidade de Pelotas, e tinha como sócio Francisco Xavier. Fazer cinema em Pelotas não era novidade, pois José Brizolara, proprietário de uma clicheria, se dedicava a documentar a paisagem da região. Também os Irmãos Grecco, financiados por Eduardo Hirtz, da mesma forma realizavam seus pequenos documentários, como Club dos Atiradores, lançado em 12/02/1913 no Recreio Ideal de Pelotas. José Brizolara filmou: Uma Excursão pelo Rio São Gonçalo, Da Boca do Arroio Pelotas ao Porto da Cidade, Panorama da Represa e Uma Excursão ao Cerro do Capão Leão, que eram exibidos na cidade.

Consta que Francisco Santos praticamente chegou filmando, dias depois de sua primeira apresentação, pois já tinha uma câmera de filmar, faltando apenas um laboratório para revelação dos negativos e cópias – o que não foi difícil, já que Brizolara também filmava e certamente possuía um pequeno laboratório, permitindo as primeiras experiências: Centenário e Exposição de Bagé, Um Curtume Pelotense, Uma Visita à Hidráulica de Bagé (em outubro) e Manobras em Jaguarão (em novembro).

Vamos encerrar por aqui, visto que a história do cinema é longa. Mesmo assim procurei dar uma síntese, preparativa, dos anos 10, para posteriormente dar sequência, abordando os períodos importantes da evolução cinematográfica no Rio Grande do Sul. Isto mereceu uma incansável pesquisa, durante anos, fundamental ao resgate de sua trajetória histórica e da mesma forma para a recuperação de filmes de 1909, 1912, 1913 e outros da década de 20, 40, 50, só para citar alguns, conforme veremos no meu próximo artigo ou nos livros que estão à espera de uma edição.


Antônio Jesus Pfeil é cineasta, pesquisador e historiador, com vários livros publicados, entre os quais Canoas, Anatomia de uma Cidade“, 1992 e 2º vol. em 1995, e Coisas Nossas – Vozes do 1º Musical Brasileiro, livro e CD (1996).

3 Comentários

  1. Rodrigo disse:

    Legal seu post, deem também uma olhada no nosso post sobre o cinema Gaúcho em
    http://nerdwiki.com/2014/01/22/cinema-dos-pampas-noites-de-medo/

  2. cu disse:

    menos texto pff

  3. Fabiano disse:

    Olá! Os livros Cinema Gaúcho dos Anos 10 e Cinema Gaúcho dos Anos 20 já foram publicados? Como faço para consegui-los? Grande abraço.

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