Sundance por quem viu tudo de perto

por Carlos Alberto Mattos 

Entre 1996 e 2016, acada janeiro, eu sofria com o verão carioca enquanto recebia notícias nevadas do Festival de Sundance através de Carlos Brandão e sua companheira-parceira Myrna Brandão. Naqueles 20 anos, eles foram minha principal fonte de informações sobre o cinema independente mundial.

Ver esse material reunido agora num livro é motivo de grande alegria. Carlos foi um pesquisador apaixonado e, junto com Myrna, um repórter afiado. Suas entrevistas e artigos a respeito de filmes e diretores que passaram pelo Sundance têm a marca de quem viu tudo de perto. E soube contar.

Isso foi o que escrevi para a contracapa do livro 20 Anos de Cinema Independente, que reúne os textos e entrevistas de Carlos Augusto Dauzacker Brandão (1935-2019) produzidos em duas décadas do Festival de Sundance. Mas existe muito mais a ser dito sobre essa coletânea reunida por ele e sua companheira (de vida e trabalho) Myrna Silveira Brandão. Na mesma contracapa, o cineasta Walter Salles comenta a respeito de Sundance: “Foi um dos primeiros festivais internacionais a abraçar a nossa cinematografia naquele momento, e poucos críticos e jornalistas acompanharam esse movimento tão de perto quanto Carlos Augusto Brandão. Com sua inseparável Myrna, Carlos anteviu o que ainda estava em construção: cobriu o Festival desde os seus primeiros passos, colhendo entrevistas preciosas de jovens diretores estreantes. Não consigo lembrar de Sundance sem pensar em Carlos, nas suas observações e perguntas sempre pertinentes e sensíveis, nas suas matérias que dimensionaram o cinema brasileiro que renascia”.

O livro, lançado separadamente em português e inglês pela editora Autografia, possui três grandes capítulos, além da apresentação por Myrna, de uma introdução sobre o envolvimento pessoal do casal com o evento de Park City e do prefácio por John Cooper, ex-diretor do Festival de Sundance.

No capítulo de entrevistas com diretoras, diretores, atrizes e atores brasileiros que tiveram seus filmes exibidos em Sundance constam nomes como Walter Salles, Anna Muylaert, José Mojica Marins. Karim Aïnouz, Monique Gardenberg, Beto Brant, Felipe Gamarano Barbosa, Rodrigo Santoro e muitos outros. Os entrevistados estrangeiros incluem Peter Fonda, Werner Herzog, Hal Hartley, Yorgos Lanthimos, Kim Longinotto, Spike Lee, Jim Jarmusch, Apichatpong Weerasethakul, Alice Rohrwacher e Ricardo Darín.

O último capítulo traz um levantamento dos destaques de cada edição do festival entre 1996 e 2016, envolvendo não só os filmes de maior evidência, como também comentários sobre a premiação e sobre as mudanças no perfil do evento ao longo do tempo. Os textos combinam muita informação com apreciações críticas e considerações sobre a recepção dos filmes pelo público.

Com imenso carinho após a perda do companheiro, Myrna Brandão concluiu a compilação iniciada por ele e cuidou para que o livro chegasse ao público da forma como ele desejava. Considerando-se que Sundance foi a meca do cinema independente mundial, inclusive com participação brasileira significativa, a cobertura de Carlos e Myrna é um tesouro de referência e uma leitura prazerosa. Ali está, a quente, o que algumas das melhores cabeças do cinema pensavam enquanto descortinavam suas novas criações.

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