Dia Mundial da Preservação Audiovisual

Seguindo diretrizes sugeridas pela ABPA-Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, o Cine Arte UFF em conjunto com o Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense, o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro e o Arquivo Nacional programaram uma verdadeira Jornada de Preservação a ser comemorada na quinta-feira, 29 de outubro, no Cine Arte UFF, com uma programação especialmente voltada para chamar a atenção e ao mesmo tempo celebrar a necessidade  de preservação de nossa memoria audiovisual. Essa data, comemorada em 27 de outubro e estabelecida pela UNESCO, é uma ótima oportunidade para a reflexão e busca de condições que viabilizem, na medida do possível, condições mais adequadas para que os acervos audiovisuais, tanto públicos quanto privados, possam ser preservados para gerações futuras. A iniciativa da UNESCO faz parte do programa Memória do Mundo, lançado em 1992 com o objetivo de proteger e promover a conscientização da necessidade — e muitas vezes urgência — da preservação e do acesso ao patrimônio documental através de estratégias tecnológicas e de inovação, métodos e gestão desse patrimônio.

A programação do Cine Arte UFF para o Dia Mundial da Preservação Cinematográfica é a seguinte:

29 de outubro | quinta-feira | Entrada franca

16h > MENINO DE ENGENHO
Exibição em 35mm da cópia recém restaurada por Francisco Sérgio Moreira através do Programa de Restauro do CPCB.
De Walter Lima Júnior. Brasil, 1965, 110’, 10 anos. Com Geraldo Del Rey, Sávio Rolim, Anecy Rocha, Maria Lucia Dahl, Antonio Pitanga
Paraíba, 1920. Após a morte da mãe, o menino Carlinhos é enviado para o engenho Santa Rosa para ser criado pelo avô e pelos tios. Lá ele testemunha a chegada de um novo tempo, com o advento das modernas usinas de açúcar e as transformações econômicas e sociais pelas quais passa a produção canavieira, mudanças que irão afetar a vida de todos. Baseado no romance homônimo de José Lins do Rego.

18h > PAINEL
João Luiz Vieira – Menino de engenho: o Cinema Novo e sua época
Francisco Moreira – O processo de restauração do filme: o antes e o depois
Myrna Brandão – O Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro/CPCB  e seu programa de preservação

19h30 > O ENCOURAÇADO POTEMKIN
Comemoração dos 90 anos do filme. Intertítulos em Russo com tradução em Inglês.
Bronenosets Potyomkin, URSS, 1925, 71’, 10 anos. De Serguei Eisenstein. Com Grigori Aleksandrov, Sergueï Mikhailovich Eisenstein, Aleksandr Antonov
O Encouraçado Potemkin é a realização mais importante e conhecida do russo Serguei Eisenstein. O filme é considerado um marco na montagem cinematográfica e parte de um fato histórico de 1905 – a rebelião dos marinheiros de um navio de guerra – para criar uma obra universal que fala contra a injustiça e sobre o poder coletivo que há nas revoluções populares. As cenas iniciais banhadas em luz e alegria são substituídas pelas imagens chocantes de repressão violenta pela guarda do Czar. A cena da escadaria, onde o carrinho de bebê desce os degraus, é sempre citada como uma das mais famosas da história do cinema.

21h – MESA REDONDA
José Paulo Netto, professor emérito da Escola de Serviço Social da UFRJ – Eisenstein e Potenkim: a reflexão da arte do ponto de vista marxista
José Carlos Avellar, crítico de cinema – Revendo Potemkin com Eisenstein
Mediação do Professor Fabián Nuñez (Departamento de Cinema e Vídeo/UFF)

Noventa anos de O Encouraçado Potemkin de Eisenstein

Em dezembro de 1925, em uma sessão para convidados no Teatro Bolshoi, em Moscou, é exibido publicamente, pela primeira vez, o longa-metragem O encouraçado Potemkin (Bronenosets Potiomkin), de Serguei Mikhailovicth Eisenstein. Encomendado pelo Estado soviético para comemorar os vinte anos da fracassada Revolução de 1905, o filme retrata um dos principais episódios da revolta: o motim ocorrido no navio de guerra da Frota do Mar Negro, devido às péssimas condições às quais eram submetidos os seus marinheiros. O diretor Serguei Eisenstein, ao lado de seus diletos colaboradores, o fotógrafo Eduard Tissé e o montador Grigori Alexandrov, realiza uma obra-chave na história do cinema mundial. Dividido em cinco partes, o filme propõe uma nova forma de pensar a linguagem cinematográfica, após Eisenstein ter dirigido seu primeiro longa A greve (1924), ainda marcado pelas ideias do diretor teatral Meyerhold, com quem havia estudado e trabalhado. Ao absorver as experiências estéticas das vanguardas artísticas, como o futurismo e o construtivismo, e imerso na inaudita formação de uma sociedade nova, Eisenstein, um então jovem cineasta de 27 anos de idade, propõe um novo cinema, a partir dos debates que incendiavam o meio cinematográfico soviético. Um cinema formado por ideias revolucionárias com o intuito de inaugurar uma nova era na história da Rússia e da Humanidade.

Imediatamente, O Encouraçado Potemkin torna-se um filme aclamado pelo público e pela crítica, embora tenha recebido críticas de artistas vanguardistas soviéticos, como o escritor Chklovsky e o cineasta Vertov. Em 1926, o longa é estreado em Berlim, onde os negativos originais do filme foram cortados, seguindo as orientações da censura local. Desde a estreia, o filme recebeu várias versões, sendo a mais difundida a versão sonorizada realizada na União Soviética, em 1949. Por ocasião do cinquentenário do filme, em 1975, o pesquisador russo Naum Kleiman, responsável pelo acervo de Eisenstein por quase vinte anos e considerado um dos maiores estudiosos sobre o cineasta, já chamava a atenção para a distorção da obra. Porém, é a partir de meados dos anos 1980 que o preservador audiovisual alemão Enno Patalas, então à frente do Filmmuseum de Munique, almeja realizar uma criteriosa restauração que se aproximasse o máximo possível dos 1.378 planos que formavam a versão original concebida por Eisenstein. Durou, praticamente cerca de vinte anos, realizar esse empreendimento, graças aos esforços de vários arquivos fílmicos, como Bundesarchiv-Filmarchiv, Deutsche Kinemathek, British Film Institute (BFI), Museum of Modern Art (MoMA) e Gosmofilmofond. Sob a supervisão de Enno Patalas e Anna Bohn, a nova versão restaurada de O encouraçado Potemkin foi exibida, pela primeira vez, no Festival de Berlim em 12 de fevereiro de 2005, ano do centenário do motim e dos oitenta anos da realização do clássico filme. É essa versão restaurada que apresentamos em Blu-ray, lançada pela distribuidora estadunidense Kino Lorber.

Por que assistir a O Encouraçado Potemkin, hoje? Devemos encarar esse filme como o representante de uma escola artística, como a expressão de um genial artista múltiplo ou como a manifestação de um projeto de nação e de mundo que aparentemente não deu certo? Talvez todas essas opções sejam válidas e extremamente importantes. No entanto, o que o Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense, ao lado do Cine Arte UFF, propõe é debater sobre a importância de O Encouraçado Potemkin e da figura magistral de Serguei Eisenstein para o cinema e o audiovisual e, assim, refletir sobre a sua herança. O que é uma obra audiovisual revolucionária nos dias de hoje? Que relações existem entre cinema, política e história?

Temos a honra de convidar para debater conosco sobre O Encouraçado Potemkin e o cineasta Serguei Eisenstein, o crítico de cinema e professor da Escola de Cinema Darcy Ribeiro (ECDR) José Carlos Avellar, estudioso de Eisenstein, e José Paulo Netto, professor emérito da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), célebre pensador marxista.

Um comentário

  1. Rita de Cássia São Paio de Azeredo Esteves disse:

    Como arquivista senti falta da data nesse texto.Como o evento ocorre todo ano, como podemos saber se essa programação é de 2016?

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