Estilos de Iluminação – A Estética da Sombra

por Myrna Silveira Brandão 

O tema central da retrospectiva da 64ª edição do Festival de Berlim será a iluminação no cinema. Intitulada Estética da Sombra, a Mostra dará às audiências a oportunidade de descobrir ou rever estilos de iluminação, em décadas e gêneros específicos, da história do cinema no Japão, Estados Unidos e Europa.

A ideia de realizar a Retrospectiva na Berlinale teve origem  no livro The Aesthetics of Shadow, Lighting and Japanese Cinema (2013), de Daisuke Miyao. Rainer Rother, organizador da mostra e diretor artístico da Cinemateca Alemã, destacou a importância desse reconhecimento a Mioyao:

“As fascinantes inspirações de Daisuke Mioyao, na arte de iluminação e na história do cinema japonês, foram pouco estudadas e nos impressionam tanto que estamos fazendo a curadoria, no nosso programa de filmes, em estreita cooperação com ele”, disse Rother, lembrando que a Berlinale também tinha uma dívida com as diversas sugestões do escritor para premières alemãs de filmes japoneses. “Um deles, que mostraremos agora, é o  “musical samurai” Singing Lovebirds, de Masahiro Makino, Japão (1939, foto acima), um filme que atingiu um status de culto no Japão”, complementa.

Nessa época, muitas pessoas ficavam fascinadas com a estética do diretor F. W. Murnau em filmes como A Última Gargalhada e Nosferatu e admiravam igualmente o mágico mundo de luz e sombras de Josef von Sternberg  em Docas de Nova York (1928) e O Expresso de Shanghai (1932). Tudo isso levou a que o fotógrafo japonês Henry Kotani, que havia vivido nos Estados Unidos, fosse convidado pelo Estúdio Shochiku para modernizar a cinematografia e os efeitos de luz e refletores dos seus filmes. Um exemplo disso é o filme The Revenge of Yukinojo, de Teinosuke Kinugasa, que mostra  espadas brilhando no escuro da noite.  O protagonista Kazuo Hasegawa se transformou numa grande estrela do cinema japonês, também devido à sofisticada iluminação especialmente criada para o seu rosto.

A mútua influência de outros gêneros pode também ser observada. Diversos filmes de guerra japoneses e americanos mostravam, em iluminação de luzes e sombras, os atos heroicos praticados por seus soldados e tropas.

Uma mudança no sentido do realismo pode ser vista no uso de locações em eventos reais de guerra.  Essa tendência é também refletida em clássicos  como As Vinhas da Ira, de John Ford (1940), Cidadão Kane, de Orson Welles (1941) e Cidade Nua, de Jules Dassin (1948), filmes que exploraram os limites entre realidade e a ficção.

A Mostra será constituída de  40 filmes mudos e sonoros, focalizando estilos de iluminação para diversos gêneros. Entre os destaques,  estão também alguns  títulos recentemente restaurados como Under the Lantern, de Gerhard Lamprecht, (Alemanha, 1928);  A Marca do Zorro, de Fred Niblo  e A Máscara de Ferro, de Allan Dwan, ambos americanos, de 1920. Os títulos mudos serão acompanhados de trilhas musicais criadas especialmente para eles e executadas por grupos de diversas origens.

Ao fazer o anúncio da Mostra, Dieter Kosslick, diretor da Berlinale, também expressou a importância dessa Retrospectiva:

“Nós admiramos filmes como, por exemplo,  Rashomon, de Akira Kurosawa, mas na maior parte das vezes, não sabemos os nomes dos operadores de câmera e os técnicos de iluminação que, junto com o diretor, criaram esses maravilhosos mundos de luz e sombra para nós”, declarou Kosslick.

Deixe sua Opinião

  • Please leave these two fields as-is:
  • Para proceder você precisa resolver essa simples conta, para nos ajudar na prevenção de SPAM.